sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Linguagem e Política

Nada mais perigoso do que o uso das palavras. Já os sofistas[1] na Grécia Antiga perceberam a importância da linguagem, especializando-se na retórica. “Nos tempos antigos, quando a persuasão constituía uma força pública, impunha-se a eloqüência. De que serviria hoje, quando a força pública substitui a persuasão?”, escreveu Rousseau.[2] Ele não poderia imaginar o alcance dos meios modernos de persuasão.A obra de George Orwell mostra a estreita conexão entre liberdade e linguagem. Políticos e burocratas autoritários tendem a metamorfosear as palavras, mascarando ou destituindo-as do seu significado real. O burocrata patológico faz questão de dominar os códigos, os segredos inseridos nas entrelinhas e especializar-se, a ponto de as pessoas temerem-no. O político populista-autoritário usa frases pomposas. “A linguagem política”, escreveu Orwell, “destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez”.[3]A corrupção da linguagem é essencial para a manutenção da dominação política. Na novilíngua (newspeak), as palavras falseiam a verdade. O indefensável ganha a áurea de sagrado. A mais simples dúvida constitui uma crimidéia. Assim, o Ministério da Verdade tem a função de forjar a verdade do poder. O Ministério do Amor mantém a lei e a ordem através da tortura e da dor. No Ministério da Paz, trama-se a guerra. E o Ministério da Fartura produz falsas estatísticas e encobre a escassez.“Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”.[4] Eis o duplipensar: a realidade histórica é e não é conforme os interesses do partido. Segundo a vontade do Estado, os registros históricos são suprimidos; mata-se o indivíduo, eliminando qualquer referência ao mesmo.George Orwell não poderia imaginar que o Big Brother se tornaria personagem de TV, com grande índice de audiência. A crítica à vigilância permanente, ao controle do indivíduo pelo Estado, à aniquilação da liberdade, perde-se no glamour dos artistas televisivos. O conceito orwelliano do Big Brother é removido da história.E já que tratamos das palavras, sempre é bom fazê-lo com carinho. Armamos armadilhas contra nós próprios quando nos aventuramos a esgrimir as palavras como armas inerentes à defesa das idéias. Escrever é se expor à crítica – justa ou injusta, pouco importa; escrever é correr o risco de ser manipulado, mal-interpretado e incompreendido. Escrever é correr o risco de fazer inimigos e perder os amigos.

* Publicado originalmente em http://antoniozai.blog.uol.com.br/, 13.11.2006.
[1] A propósito, sofista (do grego, sophistés) originalmente significava sábio; posteriormente adquiriu o sentido de impostor (derivado do latim sophista).
[2] Ver: ROUSSEAU, Jean-Jacques. Ensaio sobre a origem das línguas. São Paulo, Abril Cultural, 1978, p. 198. (Os Pensadores)
[3] ORWELL, George. “Politics and the English Language”. A Collection of Essays Nova York, Doubleday, 1954. Citado in: NASH, Paul. Autoridade e liberdade na educação. Rio de Janeiro, Edições Bloch, 1968, p. 100.
[4] ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1998, p. 36.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Crítica do Pensamento da Classe Média

A maioria das pessoas que têm 3º grau no Brasil e não teve a honra de aprender a ser mais humana, mais sincera, mais solidária e mais honesta consigo mesma carece de uma visão social mais ampla.
A cultura da sociedade de consumo desenfreado, que valoriza mais o “ter” do que o “ser”, faz com que essa parcela da população se ache rica quando, na verdade, está muito longe da riqueza. Tudo porque, felizmente, vive longe da falta de moradia, de comida, de higiene, de instrução e de lazer. Considera-se privilegiada só porque trabalha em uma empresa “de marca”, onde ilude-se achando que é “indispensável”.
Outros passaram em um concurso público com um bom salário e um cargo que lhes dá status. Todavia, ignoram a sua importância como engrenagens a serviço do cidadão, restringindo-se a tão-somente exercer as tarefas para as quais estão sendo pagos.
Seus momentos de lazer e de descanso são desperdiçados apenas com frívolas visitas familiares; brincando com seus filhos (caso lembrem-se do quão importante é a sua presença para a formação de sua personalidade), em um restaurante, em uma festa ou numa viagem.
Não que isso não seja interessante, útil, renovador, relaxante. Mas é muito pouco em termos sociais: o mundo é muito mais do que apenas fazer o dinheiro circular (quando puder).
Essas pessoas estão acostumadas a serem informadas prioritariamente pelos jornais, revistas e rádio. Embora haja concorrência entre veículos e ninguém seja obrigado a ler, ouvir ou ver o que não quer, não sabem que aquelas notícias têm um outro lado da história e que todas as suas referências de consumo midiático falam a mesma coisa com o mesmíssimo objetivo, apenas utilizando palavras um pouco diferentes.
Este é o chamado PUM: Pensamento Único da Mídia.
O PUM existe para que o cidadão não exerça a sua cidadania em prol dos que mais precisam. O PUM não incentiva as pessoas a serem solidárias ocupando o papel de verdadeiros atores sociais, conscientes da sua utilidade e da sua obrigação para com os outros seres humanos: o PUM induz as pessoas a serem reles reprodutores das idéias que os mentores e maiores beneficiados por esse suposto pensamento único, reagindo com ações previsíveis, comportando-se de maneira uniforme e questionando pouco ou quase nada as mazelas da sociedade.
O PUM gera uma sociedade passiva: é o pensamento único da classe média ignorante.
Essa classe média ignorante engloba a esmagadora maioria dos profissionais mais requisitados do “mercado” que, em tese, deveriam estar entre os mais esclarecidos e entre os mais ponderados: advogados, médicos, dentistas, psicólogos, engenheiros, administradores, jornalistas, publicitários, relações públicas, professores e desenvolvedores de software.
A maioria dessas pessoas não rouba, não mata, não mente com o intuito de ferrar alguém, procriam, se divertem, são simpáticas, trabalhadoras, esforçadas e inteligentes.
Contudo, vivem acreditando em quem menos deveriam acreditar!!!
Vivem temendo cada vez mais o que deveriam temer cada vez menos!!!
Não percebem que são os pilares de sustentação da má educação, da má economia, da pior distribuição de renda do planeta.
Não, elas não merecem ter o carro roubado, o celular furtado, a casa arrombada. Não, a classe média não merece perder o emprego, apanhar na rua, ser humilhada, discriminada, sofrer estupro, levar um tiro, ser torturada ou ter um filho pequeno moído no asfalto.
Mas ela paga pela sua ignorância.
Ela peca pela sua ignorância.
Ignorância adquirida graças ao PUM.
O PUM gera a violência dos oprimidos sobre a barreira formada pelos pseudo-oprimidos que, ao mesmo tempo, são pequenos opressores.
Os pseudo-ricos são pseudo-culturados.
Eles são o resultado do lixo que foi a educação recebida durante o Governo Militar, que acabou com o senso crítico e - mais do que isso - com a sensibilidade ao eliminar Teatro, Música, Artes Aplicadas e noções de Filosofia, Sociologia e Psicologia do currículo escolar.
Esse conhecimento humanístico foi limado tanto das escolas públicas como particulares.
E transformou o grosso da classe média entre 30 e 60 anos em pseudo-gente.
A classe B ou média alta é a pseudo-classe, pois não existe classe nenhuma na ignorância social. É composta apenas por pseudo-pessoas, que por sua vez, perdem feio em sensibilidade humana para os ótimos frutos da inclusão social a partir do trabalho voluntário (alunos de oficinas de teatro, dança, música, pátina, rap, hip-hop, fotografia, cinema e vídeo, cooperativismo, cursos de idiomas, informática e internet).
Os frutos do Bolsa Família e do ProUni já estão chegando acima da linha da pobreza física e social. Eles são a classe C, que não precisa da B para dizer-lhes quem são e até onde podem chegar. Afinal de contas, o céu da B tem fim porque o sonho deles acabou.A classe C em estética e na profundidade do bolso é melhor do que a A e a B juntas em termos de respeito ao próximo e na sua honesta capacidade de tentar tornar seus sonhos possíveis. Eles têm muito mais garra para, como cidadãos DE VERDADE, ir além de onde os pseudo-cidadãos já estão porque têm muita vontade de levar uma vida tranqüila. E eles jamais se esquecerão da ajuda que receberam, procurando ensinar a seus filhos e praticando eles mesmos a solidariedade humana, a compaixão, a celebração da vida e a satisfação de contribuir com um mundo melhor.
Essa é a classe C, que pôde comprar PCs baratos com ajuda do Governo. Que abriu seu pequeno negócio com taxas de juros e impostos justos e honestos para o seu tamanho. Que sabe que a dor ensina a gemer e não pretende mais sentir dor por besteira.
Se você pertence à classe B, ainda há tempo de aprender a viver como uma pessoa mais justa, mais solidária e, sem sombra de dúvida, muito mais inteligente.


Por Hélio Sassen Paz (http://heliopaz.wordpress.com/2007/02/15/critica-do-pensamento-da-classe-media/)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

BIG BROTHER BRASIL - Uma Visão Crítica


Começa mais um BBB - Big Brother Brasil [2008]
Como funciona o esquema: 29.000.000 (milhões) de ligações do povo brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado. Vamos colocar o preço da ligação a R$ 0,30 (trinta centavos) e só. Então, teremos... R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais, que o povo brasileiro gastou (e gasta), em cada paredão!
Suponhamos que a Rede Globo tenha feito um contrato "50% por 50%", ou melhor,"meio a meio" com uma operadora de telefonia, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00.Repito: Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas.
Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que paga-se para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, consequentemente, daqueles que só bebem nessa fonte. Certa está a Rede Globo.
O programa BBB dura cerca de 3 (três) meses, ou seja, o "sábio público" tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural, para quem gasta mais de R$ 8.000.000,00, repito, oito milhões de reais numa só noite! Coisa de país rico como o nosso, claro!
Nem a UNICEF (órgão das Nações Unidas para a infância), quando faz o programa CRIANÇA ESPERANÇA, com um forte apelo social, arrecada tanto dinheiro. Vai ver, deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas, tenho dúvidas se daria audiência. Prova disso, é que na Inglaterra, pensou-se em fazer um BBB só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência.
Qual o motivo do fracasso? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria. Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em audiência em países de 3º mundo... Um país como o nosso, onde o cidadão vota para eliminar um bobão ou uma bobona qualquer... mas não se lembra em quem votou na última eleição... Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita ser de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal e, que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto...
Que eleitor é esse? Depois, não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc.
Quem os colocou lá? Claro, o mesmo eleitor do BBB!
Aí, agüente...
- As absolvições dos Renans Calheiros...
- Os Aumentos dos IOFs...
- As Falências dos Sistemas de Saúde...
- As Epidemias de febre-amarela...
- Os 40 Ladrões do Ali Babá... e de quebra...
Trabalhando igual a um burro mais de 5 (cinco) meses por ano para sustentar nefastas instituições absolutamente desacreditadas pela sociedade... enfim, estamos no início de mais uma temporada do BBB, sigla que reflete, como nenhuma outra, a prostituição de valores de nossa sociedade.
Enquanto isso a grande vilã das comunicações - Rede Globo - continuará se enchendo de glória e dinheiro com o patrocínio de canalhices ao vivo e a cores de 14 candidatos, a um grande prêmio, vitória pela maior habilidade em agirem como devassos das relações com o próximo. Enquanto a sociedade der audiência a esse tipo de patifaria televisiva, a falência da família e dos valores morais e éticos não vão mais retroceder.
Estejam certos de uma coisa: Os iletrados e os aprendizes, vítimas da falência da cultura, da educação e da família, terão dezenas de horas de puro deleite de como ser falso, mentiroso, infiel, hipócrita, leviano, canalha, com todos os derivativos da falta de ética e imoralidade estando à mostra.
Mas o contribuinte não deve ligar mesmo, ele tem condições financeiras de juntar R$ 8 milhões em uma única noite para se divertir (?!?!), ao invés de comprar um livro de literatura, filosofia ou de qualquer entretenimento televisivo relevante para melhorar a sua articulação, a sua autocrítica e a sua consciência...
A Rede Globo sabe muito bem disso. Os autores das músicas: "Egüinha Pocotó" e "O Bonde do Tigrão", sabem muito bem disso o Gugú e o Faustão também; Não é maldade nem desabafo.

"A ignorância é a mãe de todos os males". (François Rabelais (1483-1553) Escritor e Padre Francês)
BBB – Bendita Burrice Brasileira
Autor: Não mencionado