quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Crítica do Pensamento da Classe Média

A maioria das pessoas que têm 3º grau no Brasil e não teve a honra de aprender a ser mais humana, mais sincera, mais solidária e mais honesta consigo mesma carece de uma visão social mais ampla.
A cultura da sociedade de consumo desenfreado, que valoriza mais o “ter” do que o “ser”, faz com que essa parcela da população se ache rica quando, na verdade, está muito longe da riqueza. Tudo porque, felizmente, vive longe da falta de moradia, de comida, de higiene, de instrução e de lazer. Considera-se privilegiada só porque trabalha em uma empresa “de marca”, onde ilude-se achando que é “indispensável”.
Outros passaram em um concurso público com um bom salário e um cargo que lhes dá status. Todavia, ignoram a sua importância como engrenagens a serviço do cidadão, restringindo-se a tão-somente exercer as tarefas para as quais estão sendo pagos.
Seus momentos de lazer e de descanso são desperdiçados apenas com frívolas visitas familiares; brincando com seus filhos (caso lembrem-se do quão importante é a sua presença para a formação de sua personalidade), em um restaurante, em uma festa ou numa viagem.
Não que isso não seja interessante, útil, renovador, relaxante. Mas é muito pouco em termos sociais: o mundo é muito mais do que apenas fazer o dinheiro circular (quando puder).
Essas pessoas estão acostumadas a serem informadas prioritariamente pelos jornais, revistas e rádio. Embora haja concorrência entre veículos e ninguém seja obrigado a ler, ouvir ou ver o que não quer, não sabem que aquelas notícias têm um outro lado da história e que todas as suas referências de consumo midiático falam a mesma coisa com o mesmíssimo objetivo, apenas utilizando palavras um pouco diferentes.
Este é o chamado PUM: Pensamento Único da Mídia.
O PUM existe para que o cidadão não exerça a sua cidadania em prol dos que mais precisam. O PUM não incentiva as pessoas a serem solidárias ocupando o papel de verdadeiros atores sociais, conscientes da sua utilidade e da sua obrigação para com os outros seres humanos: o PUM induz as pessoas a serem reles reprodutores das idéias que os mentores e maiores beneficiados por esse suposto pensamento único, reagindo com ações previsíveis, comportando-se de maneira uniforme e questionando pouco ou quase nada as mazelas da sociedade.
O PUM gera uma sociedade passiva: é o pensamento único da classe média ignorante.
Essa classe média ignorante engloba a esmagadora maioria dos profissionais mais requisitados do “mercado” que, em tese, deveriam estar entre os mais esclarecidos e entre os mais ponderados: advogados, médicos, dentistas, psicólogos, engenheiros, administradores, jornalistas, publicitários, relações públicas, professores e desenvolvedores de software.
A maioria dessas pessoas não rouba, não mata, não mente com o intuito de ferrar alguém, procriam, se divertem, são simpáticas, trabalhadoras, esforçadas e inteligentes.
Contudo, vivem acreditando em quem menos deveriam acreditar!!!
Vivem temendo cada vez mais o que deveriam temer cada vez menos!!!
Não percebem que são os pilares de sustentação da má educação, da má economia, da pior distribuição de renda do planeta.
Não, elas não merecem ter o carro roubado, o celular furtado, a casa arrombada. Não, a classe média não merece perder o emprego, apanhar na rua, ser humilhada, discriminada, sofrer estupro, levar um tiro, ser torturada ou ter um filho pequeno moído no asfalto.
Mas ela paga pela sua ignorância.
Ela peca pela sua ignorância.
Ignorância adquirida graças ao PUM.
O PUM gera a violência dos oprimidos sobre a barreira formada pelos pseudo-oprimidos que, ao mesmo tempo, são pequenos opressores.
Os pseudo-ricos são pseudo-culturados.
Eles são o resultado do lixo que foi a educação recebida durante o Governo Militar, que acabou com o senso crítico e - mais do que isso - com a sensibilidade ao eliminar Teatro, Música, Artes Aplicadas e noções de Filosofia, Sociologia e Psicologia do currículo escolar.
Esse conhecimento humanístico foi limado tanto das escolas públicas como particulares.
E transformou o grosso da classe média entre 30 e 60 anos em pseudo-gente.
A classe B ou média alta é a pseudo-classe, pois não existe classe nenhuma na ignorância social. É composta apenas por pseudo-pessoas, que por sua vez, perdem feio em sensibilidade humana para os ótimos frutos da inclusão social a partir do trabalho voluntário (alunos de oficinas de teatro, dança, música, pátina, rap, hip-hop, fotografia, cinema e vídeo, cooperativismo, cursos de idiomas, informática e internet).
Os frutos do Bolsa Família e do ProUni já estão chegando acima da linha da pobreza física e social. Eles são a classe C, que não precisa da B para dizer-lhes quem são e até onde podem chegar. Afinal de contas, o céu da B tem fim porque o sonho deles acabou.A classe C em estética e na profundidade do bolso é melhor do que a A e a B juntas em termos de respeito ao próximo e na sua honesta capacidade de tentar tornar seus sonhos possíveis. Eles têm muito mais garra para, como cidadãos DE VERDADE, ir além de onde os pseudo-cidadãos já estão porque têm muita vontade de levar uma vida tranqüila. E eles jamais se esquecerão da ajuda que receberam, procurando ensinar a seus filhos e praticando eles mesmos a solidariedade humana, a compaixão, a celebração da vida e a satisfação de contribuir com um mundo melhor.
Essa é a classe C, que pôde comprar PCs baratos com ajuda do Governo. Que abriu seu pequeno negócio com taxas de juros e impostos justos e honestos para o seu tamanho. Que sabe que a dor ensina a gemer e não pretende mais sentir dor por besteira.
Se você pertence à classe B, ainda há tempo de aprender a viver como uma pessoa mais justa, mais solidária e, sem sombra de dúvida, muito mais inteligente.


Por Hélio Sassen Paz (http://heliopaz.wordpress.com/2007/02/15/critica-do-pensamento-da-classe-media/)